terça-feira, outubro 26, 2004

2.1

Por que é tão difícil gostar da grama que nasce no jardim dos fundos? Plantamos e colhemos o tempo todo, todo o tempo, e planejamos, e temos medo de dar errado, e visualizamos o acidente e conseguimos o que planejamos. Medo é planejar o futuro de forma pessimista.


2.2


O país é de natureza tropical, encenação geral e pasta de dentes junto à merenda pública. Tristeza é uma nação de outro continente. A fome passa pelo povo sem misericórdia. Porém o sorriso pregado no poster do barraco ainda satisfaz quem não tem opção.
A chuva não pode chegar, o banho de sol tem de durar até as 11, antes da aula de religião econômica. Água Perrier para beber, nem um centavo para a fome que precisa comer na calçada ao lado do sapato.
Quando o pôr-do-sol é nublado, as aparências procuram as sombras e todos escurecemos cruelmente, sem disfarçar.
Pena que só aparências permeáveis estejam em extinção no zoológico de casa.


2.3


Miséria alimenta de fato o artista, se não enche a boca certamente inflama o espírito nos puxando para o alto com o vapor quente das nossas almas queimadas em troca de paz espiritual. Paixão dilacera o corpo, arte dilacera o homem, exigindo atitude em relação à si próprio.


2.4


Como um suicida pode amar o próximo??? Em algum lugar se esconde um guia com os segredos do amor prórpio, mas muitos poucos lêem até o final e a grande maioria acaba estacionando na era glacial, esfriando catalepticamente, morrendo sem perceber o fato. Sofrer é aprender, porém ninguém mais quer estudar e a versão hitleriana do professor-servo de Deus (com d maiúsculo mesmo, para os cegos abrirem a janela da alma!) pendurou o tridente.