quinta-feira, dezembro 24, 2015



here comes my man

24/12/2015 - 20:10

Véspera de Natal.
Lembro dos anos 80 quando pequeno, abrindo pacotes no sítio que eu morava em Ibiúna. Os embrulhos pelo chão, a correria da alegria do brinquedo novo. Minha avó Miquelina, minha mãe, meu pai e Marta, a babá que conseguia ter uma sintonia fina comigo. A comida, a mesa, todos felizes, familia.
Ou de quando passei na casa dos meu avós por parte de pai, Joaquim e Tininha, com meus tios em volta da mesa, e a chegada do papai noel. Até hoje me pergunto por que não abri os olhos para vê-lo, creio que sabia mais do que se esperava para minha idade. O presente, um Atari, o primeiro videogame.
Já nos anos 90, meu pai separado da minha mãe sempre passava o natal conosco. No lugar da babá, tinha a Denise, que até hoje de alguma forma se preocupa comigo mesmo longe. Tinha também a cunhada da minha avó, a tia Rosinha viúva do tio Vicente, cuja lembrança mais forte que ficou foi o cheiro da água de colonia, seu tamanho excessivo e as goticulas de suor na testa.
Em 92 meu pai casou novamente, eu então passei a ser o homem da família nessa data. Não sei exatamente quando, mas ainda na primeira metade dos 90 tia Rosinha também se foi, restavam eu, mamãe e vovó, e a Dê.
Apesar disso nosso natal lite ainda era familia. Em 99 foi meu último natal com a vó Mique, quem me criou, mimou, e me deu um tipo de amor que talvez só os avós conseguem. Porém infelizmente não me lembro desse último natal com ela.
Novo milênio, no primeiro natal sem minha querida avó, restava eu, minha mãe, Durvalina substituindo a Denise, e o Toni, meu amigo que não comemorava natal em sua casa, e passou conosco.
Em 2001, a odisseia do Natal começou a se esvair.
Era só eu e minha mãe.
Me sentia triste.
Não fazia mais muito sentido pra mim. E com o passar dos anos eu cada vez tinha menos vontade de celebrar essa noite que o mundo ocidental através de todos seus mecanimos mercadologicos conseguiu, independente de tudo, criar um motivo para as pessoas que se amam estarem juntas.
Dizem que Jesus nem nasceu no dia 25, nem se sabe se ele de fato era um ou uma coletanea tipo aquelas da Jovem Pan, com os maiores sucessos de cura dos messias da época.
Enfim, não fazia mais sentido para mim.
Durante toda a primeira década do novo milênio eu alternava entre passar com minha mãe, as vezes com meu pai, e as vezes sozinho. Não me importo de passar sozinho. Me sinto confortável. Sou do tipo que fica meio triste no natal.
Talvez o natal mais marcante dessa época tenha sido o de 2010 acho. Três anos antes nascera meu irmão mais novo, o Miguel, e voltou a ter algum sentido na magia dos olhos dele ao ver meu outro irmão, o Felipe, de papai noel e ele nem sequer imaginar que aquele ser com barriga de almofada e barba de algodão fosse seu irmão.
Aqui estou em 2015.
Sozinho de cueca me recuperando de uma gripe que me acometeu nos ultimos dias e que agora está mais leve, mas não o suficiente para eu não estar sozinho no conforto da minha casa.
Este ano que foi duro, principalmente no final, para o mundo, para minha familia, para mim. Porém um ano que jamais esquecerei por um único motivo, especial o suficiente para fazer eu escrever este texto.
Minha esposa, Livia, está grávida.
Raul meu já amado filho chega em Abril de 2016.
E de repente imaginar o mundo pelos olhos de uma criança me faz sentir aquela mágica do sítio, dos olhos do MIguel, voltarem a tomar meu espírito.
Ano que vem recomeça todo o ciclo de vida.
Espero conseguir manter vivo no Raul o espírito que em mim se ausentou durante a vida adulta, mas que só ele poderia fazer comigo.

Here comes my man.